23.12.05

Quanto tentava lembrar-me de como se estuda para um exame (tipo química-fisica ou termodinâmica) comecei a resolver problemas, como fazia antigamente. Quando dei por mim nada daquilo fazia sentido: se eu não tenho aqueles problemas (tenho outros para resolver, mas não aqueles) porque carga de água havia de estar a usar o meu tempo a tentar resolver um problema que não tenho. Só me apetecia enviar um email ao professor "Caro professor, o problema x da aula y não é um problema para mim. Se não se importa prefiro resolver o problema z. E já agora, tenho uma dúvida... Muito obrigado pela atenção. Cumprimentos, Ana Morão". Mas entretanto lá deixei de pensar, não enviei o email e resolvi o problema x. Foi preciso começar a fazer o doutoramento para chegar a isto...

22.12.05

ups... já é Natal

depois de um exame digno dos primeiros anos do IST, por entre simulações vou de Natal: para o local habitual, bem juntinho ao Zezere: Coutada. PS - Prevêm-se 3 dias sem por os olhos em cima de um computadador e sem internet. A ideia agrada-me.

4.12.05

Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda a gente.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

3.12.05

o luxo de ser preguiçosa

sim, hoje posso. poder, não podia, mas... deixar para mais daqui a um bocadinho, para mais logo, para depois. para amanhã? talvez para outro dia. e deixar-me ficar molinha entre o edredon quente, um livro e um chá, cheio de mel com um dia preguiçoso pede.

28.11.05

talvez...

porque nesses dias voava. porque nunca escrevo...

A minha casa

não há por este blog nem uma ténue referência à minha primeira noite gelada nesta que então não era minha casa. uma noite com pesadelos, uma noite em que senti que invadia um espaço de alguém. longa, em que acordei muitas vezes. em que tive que fechar a porta do quarto para não me sentir num espaço tão estranho, grande, quase infinito. a minha casa.

25.11.05

quase um ano depois...

quase. porque quase sempre festejo comigo por antecipação.

18.11.05

quando der por mim já é natal p.s. - a estrela do BBVA já está acesa e este ano cintila

continuar o dia

vestida de cinzento a receber presentes. dois pares de brincos feitos por uma amiga minha. uma toalha bonita que a minha mãe trouxe de S. Pedro do Sul. a garrafa de Murganheira rosé que ficou a meio na festa de anos da mãe da Beatriz e que tem que ser bebida. muita cor para um dia cinzento.

17.11.05

sabe bem

arrastar-me da cama num dia cinzento e encontrar uma caixa de chocolates à minha espera em cima da minha secretária

15.11.05

STOP

pára de fazer as perguntas que não têm que ser feitas (isto é para mim)

13.11.05

9.11.05

informações inúteis

1. Afinal apetece-me blogar, ie, não me apetece trabalhar. 2. Metade das luzes da ponte 25 de Abril estão apagadas. 3. A base do Cristo rei está iluminada a azul! Alguém faz ideia porquê? 4. As luzes de Natal da Av. Liberdade já estão acessas, mas felizmente o BBVA (ainda) não tem a estrela pirosa do ano passado.

trabalhando (demais ?)

O trabalho de um investigador (...) consiste em pegar num problema para além lá das fronteiras do conhecimento, aplicar os métodos da teoria com que está a trabalhar e tentar extrair previsões que possam estar erradas - e não certas! Como disse Niels Bohr, quanto mais afastada uma experiência está das previsões, mais próxima está do prémio Nobel.
Jorge Buesco in O mistério do bilhete de identidade e outras histórias Página dobrada e frase sublinhada desde que a li, algures em janeiro de 2oo3. Não sei porquê achava que era Einstein e não Bohr quem tinha feito a afirmação...

4.11.05

Sentava-me no meu sofá diante a janela. Assistia aos desenhos que as nuvens iam formando diante de mim. Via a lua nascer, crescer, ser uma bola vermelha ao amanhecer e depois desaparecer e voltar a aparecer. Ouvia a chuva que às vezes bate na janela. Lia todos os livros que vou acumulando em casa. Lia os livros que vejo nas livrarias e gostava de ler. Sentada esperava. Pelos sonhos que haviam de vir ter comigo, pelos os sonhos que podiam ou não nascer enquanto esperava. Esperava por ti a tempo inteiro, como se só tu existisses, como se só tu fosses o mundo. Havia dias em que as lágrimas escorriam pela minha cara. Havia dias em que um sorriso de sonho se haveria de formar em mim. Havia dias sem fim. Mas todos esses dias iam passar.

27.10.05

nostalgias à parte

porque tenho que trabalhar. se bem que às vezes levanto voo. fez ontem um ano que assinei contrato para comprar a casa. faz um ano andava em busca de uma cama.

19.10.05

gosto dos dias em que me perco a olhar as nuvens

Tolkien

E o seu mundo fantástico para onde me mudei durante meses já lá vão talvez uns 10 anos. Não a versão apressada que se vê em 3 filmes de 3 horas, em que todas as imagens aparecem diante de mim e me deixam sem espaço para que eu as possa compor com o inevitável toque pessoal que as torna no meu mundo por instantes. Porque me apetecia ter o manto da inivisibilidade que o Hobbit usa...

14.10.05

fala-se de tempo

quando não se tem assunto de conversa e o silêncio incomoda. já vai fazendo um friozinho que faz tirar casacos do armário e puxar o edredon. aquele friozinho bom que diz que os dias vão passando. e com os dias os anos. o que permace, o que muda, o que ficou esquecido (a foto que aqui queria por e não encontro). friozinho. ainda não é bem frio. TEMPO. Hoje queria que passasse mais devagar, de ter mais tempo. preciso de tempo. E HOJE, queria o que tempo passasse mais depressa, que apenas hoje fosse já AMANHÃ.

11.10.05

perguntas gastas sem resposta

(vulgares, no sentido pejorativo da palavra)
Porque basta às vezes um olhar para me apaixonar, para achar que esse olhar me fará ser mais feliz, mais eu? Falo em olhar, querendo também dizer uma palavra, um gesto, uma gargalhada, um nada. E tantas outras vezes existe tudo o que faz sentido. Mesmo à minha frente. Mas não tem esse não o quê que faz tudo mudar.

6.10.05

20L de quê?

PS - antes que apareçam cá todos a cravar um copo: negócios são negócios e 10L são para o cervejeiro. uma pessoa não devia falar destas coisas assim em voz alta.

20L ?

Christmas beer

Receita original* Os copos só lá mais para o Natal, por ora o aroma promete. Malte moido na hora (3 tipos), extracto de malte (3 latinhas não sei os nomes), caramelo, 5 tipos de lúpulo e nos ultimos 5 min ferveu com noz moscada, pimenta da jamaica, gengibre, canela e cardamomo. Antes de ser inoculada teve direito a um banho de hidromassagens para lhe dar um toque especial (que é como quem diz, para aumentar o coeficiente de transferência de calor). * obviamente que não é minha. De quem sabe fazer boa cerveja.

3.10.05

20 L

Borbulham na 2ª cave.

30.9.05

Peguei no mundo tal qual o conheço e tentei minimizar os seus desvios em relação à forma que gostaria que os meus dias tivessem. Nada de original. Conheço muito boa gente que o tenta fazer com sistemas bastante mais simples do que Eu. A essa gente, a quem recorrentemente oiço dizer que a realidade está errada, apenas sorriu, apenas penso que o que dizem não faz sentido nenhum. E não faz. Não faz?

25.9.05

depois de tantas luas, quando já não te esperava, voltaste a entrar nos meus sonhos sem pedires licença. tu nunca pedes licença. sem me invadires, sem que eu desse conta, apareceste.
todas as noites mal fecho os olhos.

21.9.05

the surface charge density of an ion was estimated using the Stokes-Einstein radius. Why this choice for the ion size?

20.9.05

Vestígios

de manhãs com cheiro a primavera. de fins de tarde com cheiro a Natal. de verões com cheiro a alfarroba. de dias em que pensava que para tudo havia uma explicação. de dias que se acumularam na tentativa compreender cada vez coisas mais simples. de noites sem sonhos.

18.9.05

imagens, recordações, vidas, sonhos, projectos

que se sucedem pela janela de um comboio.

The next stop is...

15.9.05

não sei porquê

voltei. claro que voltei. tinha que voltar. apenas porque não gosto de deixar coisas por fazer. às vezes. e quando parti ficaram coisas por fazer.

(comprar o microondas, o pc, a mesa para a sala de jantar, a mesa de apoio, o papel na parede do quarto, mudar os cactos de vaso, acabar as análises de cromatografia iónica, rever o paper, acabar as simulações de CFD e escrever o paper, fazer medições de streaming potential, ...)
parti porque sabia que voltava. porque sei que vou voltar a partir. porque sei que hei-de voltar. às vezes. às vezes os dias ficam diferentes. voltei porque nunca se volta. porque entretanto quase tudo mudou, para voltar a ser igual. às vezes.

11.9.05

Sem sentido.

compulsivamente arrumo tudo que encontro

6.9.05

Sentido. Kyoto, 2005

4.9.05

Seoul, 2005

-1..

de volta ao ponto de partida

15.8.05

dias que bem podiam ser eternos
musicas nostalgicas que por aqui se ouvem a cada canto. que lembram que nada dura para sempre, que depois da felicidade... (estes tipos são mesmo melosos)
Que se esconde por detras do omnipresente sorriso de uma coreana?

2.8.05

volto um dia destes

31.7.05

2...

mala aberta no meio do escritório. por todos os cantos da casa há bolsinhas, saquinhos. uma pilha de t-shirts outra de cuecas, um montinho de meias. ao lado a mochila. os guias. o livro eleito companheiro de viagem, os bilhetes, passaporte. na cozinha o saco das batatas e cebolas para a minha mãe levar: um mês pode ser o suficiente para empestarem a casa de um cheiro nauseabundo. o manual da máquina fotográfica que devia ler. claro, antes de sair deixar as casas de banho bem limpas e aspirar tudo. no meio desta tentativa de organizar, desarrumei-me. cinzenta não me apetece ir de férias, não me apetece viajar. apenas voltar a por todas as coisas nos seus sítios e não sair de casa. contar ao contrário.

25.7.05

8...

22.7.05

11...

Palavras sem sentido, sem rosto. Atiradas ao ar numa tentativa de as ver voar. Desfeitas e espalhadas pela cidade. Seladas dentro da garrafa de vidro que bebi contigo, caída ao mar para ser estilhaçada pelas ondas. Podia inventar uma morada, um nome, um rosto que não o teu. Escrevo-te com a mesma certeza de não haver resposta. Apenas por preguiça de inventar um outro rosto, outras mãos, outros começos...

21.7.05

12...

POSTSCRIPTUM apercebo o lume dum coração antigo e simples atravesso a cor luminosa dos sonhos sem me deter aqui deixo o espólio daquele cuja vida é cintilação de lugares nítidos (um pouco de café, uma carta, um pedaço de vidro) tenho a certeza de que se virasse o corpo do avesso ficaria tudo por recomeçar mas se aqui voltares talvez encontres estes papéis escritos no recanto mais esquecido da noite... talvez descubras o vazio onde o corpo desgasto esperou vou destruir todas as imagens onde me reconheço e passar o resto da vida assobiando ao medo Al Berto, Vigílias

19.7.05

14...

Oiço o rumor assustador das formigas que não pararam
Tudo recolhem e guardam... longe deste sonho de verão.
Al Berto, Vígilias

7.7.05

26, 25...

Seoul guest house Jakwanga Temple

cansaço

de dias desiguais. eternamente.

6.7.05

sonho...

com dias que se sucedem iguais. casa, marido, dois filhos, televisão sempre ligada a passar imagens de outras vidas que vivo como sendo minhas. no quarto as crianças brigam, ao meu lado, o meu marido um estranho a quem um dia amei. apenas mais um estranho. sinto-me mais familiar com as vidas vividas diante de mim na telenovela de todos os dias, à mesma hora.
trabalho das 9h às 18h. uma hora para almoçar de pé no snack em frente ao escritório.
aos domingos a ida ao centro comercial, porque há sempre qualquer coisa para ver para não comprar. no verão uma tarde na praia, antecedida de horas a preparar o que levar na geleira, seguida de horas no trânsito, dentro do carro a ouvir o relato de futebol.
férias? em agosto, no algarve, a casa alugada na praia de sempre. penso começar a ler um livro que ao fim da primeira página se torna enfadonho. bem mais agradável folhear a Caras ou a Nova Gente da recém-conhecida vizinha de toldo e sonhar com a minha vida pintada de cor-de-rosa.

4.7.05

por onde ando

de azul ondas e gaivotas para Seoul, Tóquio, Quioto, Tóquio, Seoul, Andong, Gyeongju, Busan, Daejeon, Seoul, pairando uns dias, 30, pela cidade. pode ser que aterre. dava jeito. mesmo.

28.6.05

habitantes cá de casa II

- orquídea

- um cacto novo
floriram os 3
- rosmaninho - coentros
finalmente
(o tomillho e o manjerição não nasceram; temporariamente viveu uma barata na casa de banho. três dias sem pedir licença sequer. três dias até eu tomar uma atitude. sim, das grandes, vermelha, das que voam. esta era a parte que não se dizia. e claro a osga que vive no vaso da varanda da frente entre as violas olhando o castelo. gosto da osga. a oliveira continua em projecto. entretanto apaixonei-me por um cacto... um dia destes) (não há baixas a assinalar em relação ao post anterior)

17.6.05

quantos copos de água destilados diante um computador com vista para o rio?

29.5.05

Férias precisam-se

lugares especiais. podiam ser novamente por aqui.
mas, hoje, outros olhos fitam o calor destas rochas vermelhas.

26.5.05

Bate-me à porta, em mim, primeiro devagar. Sempre devagar, desde o começo, mas ressoando depois, ressoando violentamente pelos corredores e paredes e pátios desta própria casa que eu sou. Que eu serei até quando. Herberto Helder, Ou o Poema Contínuo

Prazeres que permanecem:

Depois do inicio da época das cerejas já me perdi pela feira do livro.

Hoje enlouqueci. Sentindo-me nada, saí de casa decidida a ser livre. Saí pela noite das profundezas onde vivo perdida de mim. Saí para voar. Podia ser a última noite, mas ia voar. Atravessei Lisboa pelo meio dos carros, sem me desviar, olhando-os nos olhos quando se dirigiam para mim. Marquês de Pombal, véspera de feriado à noite. Com uma garrafa vazia na mão ousei ser livre. E, no meio dos carros atónitos ao verem-me passear sem destino, no meio do trânsito, sem respeitar as regras que se aprendem na infância, não sentia os olhares nem os risos de quem me via ao longe, do passeio, esperando a sua vez de atravessar a estrada. Atirei a garrafa que rebolou sem se partir, corri atrás dela, voltei a agarra-la. Caminhei por entre os faróis sem medo. Depois de tudo ter perdido, o medo desvaneceu-se. Na minha liberdade não havia espaço para os comentários que iam surgindo em quem me via, comentários que não ouvia: -Está louca -Estaremos nós todos loucos? Apenas ausência. Esquecimento.
Vazio.

3.5.05

e sE...

E se...

e se tudo se desvanecesse. e se tudo o que quero, tudo em que acredito, tudo o que mais amo, simplesmente desparecesse, se desfizesse diante mim... e se tudo o que sempre quis, sonhei, amei, perdesse o sentido, se esvaziasse de tudo e eu me perdesse e se eu destruisse tudo o que amei, tudo o que quis ser, sonhei num copo de bom vinho do Porto. Grito, ninguém, me ouve. Sem te conhecer amo-te, como nunca amei ninguém, quero-te como nunca quis ninguém. Mas nada és, és o sem sentido. Deixo-te, como nunca ninguém amei alguém. Choro-te, a ti que sempre serás meu, a ti cujo rosto nunca conhecerei. E tudo passa ao meu lado, e eu, sempre (para sempre?) fico do lado da indiferença. Do lado que sempre sabe, sem nunca sentir. Olho-te, tudo muda, julgo sentir... mas não, apenas tu, tu a quem amo, sabes, sentes...
E eu, eu como sempre vivo feliz, a minha vidinha... E tu, com quem olhei Tinguely... E se...

22.4.05

Giacometti - Tinguely - Basel

Alguém me lembrou Alberto Giacometti e as imagens foram-se formando. Surgiu Tinguely e, claro, as fontes na Theaterplatz, o museu à beira rio. Basel. E uma imensidão de memórias e dias bem diferentes.
(num Agosto debaixo de chuva com uma amiga de sempre, em Theaterplatz, a "minha" escultura de Tinguely)
A distância entre o que ainda ontem se passou e vou esquecendo lentamente, instante a instante.

14.4.05

Calcorrei Lisboa em busca de uma janela com elevador e garagem, para passar a andar sempre a pé e subir sempre as escadas.

E perceber, mais uma vez, que apenas assim tudo sentido. E olhar as estrelas que se misturam com as luzes distantes da cidade a meus pés, sempre desperta no seu sono profundo.

10.4.05

domingo, domingo. sol, tempo, palavras: silêncio.

Maneira de bem sonhar

- Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer também amanhã. Nem mesmo é necessário que se faça qualquer coisa, amanhã ou hoje.
- Nunca penses no que vais fazer. Não o faças.
- Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela. Na verdade e no erro, no gozo e no mal estar, sê o teu próprio ser. Só poderás fazer isso sonhando, porque a tua vida real a tua vida humana é aquela que não é tua, mas dos outros. Assim, substituirás o sonho à vida e cuidarás apenas em que sonhes com a perfeição. Em todos os teus actos da vida real, desde o nascer até ao morrer, tu não ages: és agido.; tu não vives: és vivido apenas.
Torna-te, para os outros, uma esfinge absurda. Fecha-te, mas sem bater com a porta, na tua torre de marfim. E a tua torre de marfim és tu próprio.
E se alguém te disser que isto é falso e absurdo não o acredites. Mas não acredites também no que te digo, porque não se deve acreditar em nada.
- Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.
Bernardo Soares in Livro do Desassossego

7.4.05

É nobre ser tímido, ilustre não saber agir, grande não ter jeito para viver. Bernardo Soares in Livro do Desassossego

6.4.05

Silêncio

Procura-se
procuro-te, sem te querer encontrar onde sei que não estás, procuro-te
onde estás?
não te oiço...

4.4.05

Digo:

olha, é o mar e a ilha dos mitos originais. Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra a carne transcendente. E em ti principiam o mar e o mundo. Herberto Helder in Ou o poema contínuo

E se...

as grandes escolhas fossem mesmo entre a mesa da sala e as féria no Nepal/Tibete? (a vida seria bem mais simples... férias, claro. mas lá que a mesa dava jeito...)

1.4.05

Deito-me na banheira vazia, gelada. Abro a torneira, a água cai fria sobre o meu corpo despido, na banheira que se vai enchendo. Arrepio-me, tremo de frio. Lentamente a água vai aquecendo, confortando-me, ficando cada vez mais quente. O meu corpo ainda agora gelado começa a pedir-me que baixe a temperatura, mas deixo-me estar, o calor vai-se tornando insuportável. A água começa a cair mais fria, sinto-me melhor. Penso em pegar no livro pousado ao meu lado. Não, fico ali apenas dissolvendo-me na água que vai subindo, sonhando que gostaria de me transformar em água, talvez em rio, talvez em nada. Fico ali. Fecho a torneira de onde agora sai àgua como gosto: nem fria, nem demasiado quente. Carrego no botão. Começa o barulho. A banheira enche-se de bolhinhas. Penso novamente em pegar no livro para o não ler. E fico ali, sonhando dissolver-me em água. Mergulho a cabeça. Subitamente sinto-me mais leve. Decido que não me apetece ler o livro que levei comigo e pousei ao lado da banheira. Carrego novamente no botão, reparo no silêncio acolhedor que ficou entre nós: eu, a água e o livro que não li. Deixo a água sair lentamente descobrindo o meu corpo. Levanto-me, enrolo-me ma toalha. Decido que tudo está bem novamente, já não quero ser água. Visto-me e saio de casa. Para comprar um par de sapatos.

31.3.05

corro os dias que me passam,
que me fogem sem tempo para serem meus
Páscoa: passagem de ontem para amanhã. amanhã.
amanhã queria ainda voar.

22.3.05

Parabéns

a ti que vais ser feliz para sempre chuva primavera poesia árvore Pai (estou a esquecer-me de alguma coisa...)

17.3.05

Sonho ainda com os dias claros e cristalinos em que tudo era mais simples. Dias passados. Passado. Que os dias correm, tudo deixando para trás, sem nada trazer, sem nada terem. Apenas que fossem. Talvez nem sejam. Memórias apenas. Sonhos esquecidos, perdidos. Incertezas nascidas. Medos, sempre medos, sempre varridos para baixo do tapete, que de tempos a tempos é mexido. E tudo vem ao de cima. Dias, semanas, meses, anos que passam, que se somam. E tudo permanece igual. Sempre, para sempre sem sentido. Sempre,não sei até quando, sentido...

13.3.05

Penso:

talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu. José Luis Peixoto in Nenhum Olhar

11.3.05

des en c a n to silabada a silaba letra a letra foi nascendo, crescendo o que resta ?

6.3.05

habitantes cá de casa

- Cactos e trevos - Serracenia hybride - Salsa - Mangerona - Hortelã - Margaridas a nascerem... - Tominho - Mangericão - Coentros a caminho: - Loureiro - Cameleira - 3 Violas + uma planta que não sei o nome planos para o futuro: uma oliveira

1.3.05

27.2.05

Terminei a colcha que nunca comecei. Que levei semanas a fio a tricotar, no sofá da sala, decorada com as luzes da cidade, com o ruído do rio a correr, tão distante, mesmo ali ao lado. “Tocas as flores murchas que alguém te ofereceu...” – dizem as palavras que alguém cantou, que dançam diante de mim. Pousei as agulhas. Arrumei as lãs nunca compradas na parte de cima do roupeiro. Com cuidado e o carinho que ainda te tenho dobrei essa colcha quase infinita. Arrumei-a no mesmo roupeiro, ao lado das lãs, envolta num velho lençol branco. Para não ganhar pó.

20.2.05

domingo de sol

vejo o dia através de vidros duplos... (e fechar as persianas não me parece boa ideia)

13.2.05

nuvem artifícial


lembrei-me: é esta a solução...

hoje: o desejo de sempre

10.2.05

se este mundo pudesse ser para sempre como foi num só dia...

ou se para sempre pudesse dormir, qual bela adormeciada. (estou com sono, cansada. é só isso)

8.2.05

Em vão o menino tentava Segurar uma gota de orvalho Entre o polegar e o indicador Imperfeito este mundo E contudo Recoberto de flores Issa Kobayashi in Primeira Neve

Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que a doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer. Mia Couto in Mar me quer

7.2.05

Ante o frio, faz com o coração o contário que fazes com o corpo: despe-o. Quanto mais nu, mais ele encontrá o único agasalho possível - um outro coração Mia Couto, Conselho do avô in Chuva Pasmada

2.2.05

lembrei-me de mim, hoje diante de ti. não eras rio, eras somente um espelho. e ali ficaste, comigo, toda a tarde em que não olhei o meu rosto

27.1.05

no lugar das nuvens havia algodão doce cor-de-rosa

18.1.05

Por degraus de sonhos e cansaços meus desce da tua irrealidade, desce e vem substituir o mundo.
Bernardo Soares in Livro do Desassossego

Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre a chuva, entre o voo da nuvem e a prisão do charco. Mia Couto in Cada homem é uma raça

encontrei-me, por acaso...

10.1.05

de novo com net em casa....

...longe de mim