22.9.04

Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã, mesmo assim desejamos, acima de tudo, mais. Michael Cunningham in As Horas

A vulgaridade é um lar. Bernardo Soares in Livro do Desassossego procuro incessantemente um lar: o aconchego do calor que um dia conheci busco-o onde sei nunca o puder encontrar que me leva a incansávelmente fugir do conforto que tanto anseio?

Antigamente todos os contos para crianças terminavam com a mesma frase, e foram felizes para sempre, isto depois de o Príncipe casar com a Princesa e de terem muitos filhos. Na vida, é claro, nenhum enredo remata assim. As Princesas casam com os guarda-costas, casam com os trapezistas, a vida continua, e os dois são infelizes até que se separam. Anos mais tarde, como todos nós, morrem. Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre. José Eduardo Agualusa in 'O Vendedor de Passados'

14.9.04


2000?

11.9.04

e na ténue luminosidade que se recolhe no horizonte acaba o corpo. Recolho o mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge. Al Berto in Lunário

8.9.04

"Mas se um dia voltares, Nému, acorda-me, como inesperadamente me acordaste uma noite. Não me deixes deixes dormir mais, desperta-me e tudo se iluminará num sorriso teu. Talvez não seja ainda tarde para começarmos a regressar um ao outro (...) Regressa e oferece-te à preguiça triste de quem continua aqui, vivo, sorvendo a espiral da sua própria ausência. Regressa, peço-te, mesmo antes de partires." Al Berto in Lunário