11.10.07

palavras

que perdem o destinatário, que se perdem antes de se teclarem, antes de serem pensadas.

3 anos e uns meses depois, um ciclo que se fecha.

28.6.07

As flores e os pombos

Agora decidiram começar a comer os botões das margaridas.

Para poder encontrar-me a mim mesmo, tive primeiro de me perder. Tive de chegar ao pleno vazio de mim. Não foi um vazio imóvel, um compasso de espera na dança do ser: o meu vazio foi um rodopiar imparável de dinâmica negativa, de tal forma que desistir surgiu, por fim, como premente solução lógica para acabar de vez com o tormento daquele excesso giratório. Tinha dezanove anos. A minha vida, para todos os efeitos, mal começara. Mas antes mesmo de ter podido pisar-lhe o palco, parecia ter chegado já o momento de fechar o pano. A tragédia grega ensina que "o amor não deve atingir a própria medula da alma". Mas na vida de alguns de nós, de preferência uma única e irrepetível vez, a medula da alma é atingida pelo amor. Felizes os que sobrevivem.

Frederico Lourenço in A formosa pintura do mundo

Emaranhada

A vida enrola-se, os dias dão voltas e mais voltas, sempre iguais, sem nunca deixarem de ser diferentes. Enrolo-me neste novelo de fios sem fim, perco-me no meio das cartas que se dão, baralham e voltam a dar, que caem da mesa, voam com a brisa de vento, desfazem-se com a água da chuva para de novo voltarem às minhas mãos. As mesmas palavras, os mesmos fios que me atam, que me ajudam a regressar a casa. Palavras que que prendem, outras que amo, desejo, palavras que queimam ou libertam.
Perdi o fio à meada...

22.6.07

Quero ir ao Nepal

beber chá e olhar as montanhas.

19.6.07

Enquanto dormia

Ontem simplesmente continuei a trabalhar. Esta noite, antecipei as férias, passei pelas ruas de Kathmandu.

16.6.07

Lisboa


(...)

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade



Chuva, Mariza. Composição: Jorge Fernando
Palavras que dançam pelas ruas, num sábado de chuva. .

5.6.07

A Salsa e os pombos

A velhota de robe, do 4º andar do prédio a 45º da minha janela alimenta-os todas as manhãs e fins de tarde com pão que atira pela varanda. Os pombos, que vêm namorar para os vasos da minha varanda e nos seus momentos mais agitados lá atiram para fora do vaso tudo o que calha até o tornarem confortável. Depois a fase de enamoramento passa e tenho dias de sossego, de varanda limpa. Tirando as vezes em que lhes serve de casa de banho. Agora a nova moda é comerem-me a salsa. Um dia destes atacam-me a hortelã.

Saltos altos

E posso ir de saltos altos. Em Lisboa, colina a baixo, colina acima não há saltos nem pernas que aguentem. Apetece-se saltos altos, porque sim, deve ser do calor. Porque gosto, mudo o meu ponto de equilibrio e o mundo fica diferente. Não sou a mesma de sandálias e de botas de montanha.

31.5.07

E os dias

São cinzentos, no meu refúgio. Afastava a cortina da janela um pouquinho para o lado e saía. Já não me lembro como é o mundo lá fora, não, não abro a cortina, não saio. Fico aqui, à espera. Talvez...

30.5.07

Muros

Erguidos pelas minhas mãos à volta de mim, à volta dos meus dias, cada novo dia uma carreirinha de tijolos. Vai crescendo, as horas de sol vão encurtando.

Escondo ainda uma janela, uma janela para as traseiras, pequenina, não deixo que ninguém a veja. Cobro-a com cortinas grossas de veludo bege. Ás vezes, quando todos dormem, quando todas as luzes se apagam, nas noites em que não há lua nem estrelas no céu, às vezes abro-a. Olho-te, olho a janela de onde me olhas, sempre sem nos vermos. Espreito entre as cortinas pesadas, agora entreabertas. Sonho-te. Sonho-me sem muros à volta. Sonho-te.

16.5.07

Bem-vinda

- Tá memo forte, tá boa. Trataram lá bem. Como chama lá a terra onde teve? - França. - Tá memo forte. Tá gorda. Trataram lá bem.

12.5.07

@lisbon again

3 anos depois de tanta e tanta coisa, 3 anos no mesmo sítio, 3 anos de tempo, que não a chegou a ser tempo, que não chegam a ser 3 anos. tempo me mexer, de mudar de sítio. claro que não tenho destino. a outra face é a linha de conforto.

2.5.07

Just because you were able to get in, that does not mean you will be able to get out. Entrances do not became exits, and there is nothing to guarantee that the door you walked through a moment ago will still be there when you turn around to look for it again. That is how it works in the city. Every time you think you know the answer to a question, you discover that the question makes no sense.
Paul Auster in In the country of last things.

27.4.07

e enfio tudo o resto de novo na mala.

para adopção: a begónia de flores brancas que vive comigo.

8 dias

8 iogurtes, 300g de Kellogg’s special k, ½ + 1 pacote de sumo de laranja, 150g de café solúvel, 1 pacote de biscuits soja orange, 1 pacote de bolachas Fruit & Form. 500g de beterraba pré-cozinhada, 1 frasco de espargos pic-nic, 1 lata de haricots verts, 2 fatias de salmão fumado, 4 fatias de filet de poulet doré au four, 1 lata de filets de sardines, 2 latas de atum em azeite. 1,5 pacotes de Petits pains grillés, um pedaço de Comté. 8 maçãs + 1 compota de maçã, 3 fromage blanc, 1 tablete de chocolate Cote d’Or noir amêndoas, 10 ameixas secas. 8 pacotinhos de chá, 1 lata de Coca-Cola, 1 garrafa de vinho Côtes du Rhône, 1 garrafa de Porto Calém 10 anos.

24.4.07

It was still there, that bridge, just beyond the station. Yes, things endure while the living lapse.
John Ban Ville in The Sea

19.4.07

Uma brisa de ar

Quando o trabalho me sufoca:

"I belive work always pays off"
Não será o mundo então feito apenas de sortes, valerá então a pena continuar sempre? Deixar a tentação de me deixar ficar no desencanto do momento, dos desencantos acumulados que me endurecem, dias após anos.
Porque alguém, talvez já muito mais desencantado, me diz ainda estas palavras.

Fuso horário

despedimo-nos sempre Assim que nos vimos, no nosso mundo, vivido num fuso horário diferente. pertencemos um ao outro, num tempo que não tem Lugar. antes de nos encontramos falamos de viagens, viagens no tempo, para que o meu Tempo seja o teu tempo, para estarmos. encontramo-nos apenas por um Instante: nesse abraço que trago comigo, nesse toque fugaz de mãos. escassos Encontros. Sinto-te, desejo-te, já partiste. ou já parti.

18.4.07

fuga

aos dias que me fogem
Schwarzwald, Titisee, Abril 2007

3.4.07

Choques culturais? beijinhos

coisas que por aqui me incomodam:
- beijinhos no lab. beijinhos a toda a gente mesmo que eu não saiba sequer o nome. beijinhos logo de manhã quando ainda não bebi café e não me lembro se já vi aquela cara hoje ou se foi ontem. pior. beijinhos por ordem inversa à portuguesa. o meu grau de atrapalhação diminui ao longo do dia. consegui controlar, ser fria remeter os cumprimentos diários a apertos de mão. forma segura de evitar beijar alguém onde não quero.
- entram-me pelo gabinete para me dar um aperto de mão. mesmo quanto estou de phones a ler um paper. lá dou eu um salto da cabeira. sim, de vez em quando em concentro-me. e é porque tenho a situação controlada. há ainda quem entre para me dar beijinhos. mesmo gente que não conheço, entram para perguntar pelo meu colega ou as horas e espetam-me a cara à frente para dar e receber beijinhos.
Será isto o french kissing?
- computador com monitor estratégicamente virado para o corredor, sempre com a porta do gabinete aberta. um corredor onde de manhã à noite não pára de passar gente e e dão sempre uma olhada. sim, ainda por cima eu sou o ser estranho, uma portuguesa, que fala inglês. sinto-me despida.

24.3.07

Voas

E eu vivo com os dois pés bem assentes em flocos de neve.

20.3.07

Um dia, 4 estações

Com a Primavera logo pela manhã, quando saltei da cama e abri a janela para um dia coberto de neve. O Inverno chegou bem depois...

19.3.07

A vida é um lugar estranho

Desejo de criança que poucas vezes vi concretizado. Hoje trabalhei com flocos de neve a baterem na janela, arvores com troncos nús cobertos de neve. Sonho concretizado, acordar de manhã e o mundo ser branco. Quando já o tinha arrumado na gaveta dos sonhos de inverno, para o ano o voltar a vestir, como todos os anos. Esqueço tudo o resto. Neva. Perco-me a olhar pela janela, corro pela rua a tentar apanhar as nuvenzinhas brancas que derretem na minha mão e geladas batem na cara, que entram pela boca a cada gargalhada.
Em dias, em que por tradição cheira já a Primavera, neva. Tudo corre mal, quando me apetece desistir e dizer que é impossivel, as nuvenzinhas de neve dançam do outro lado do vidro. E continuo... porque neva. Chorando e rindo com a mesma intensidade. Desespero pelo trabalho, pela vida. Felicidade pela neve.

16.3.07

Cabelos brancos

Para além de serem brancos, são mais espessos, mais brilhantes que todos os outros e são especialmente vísiveis nas casas de banho dos locais de trabalho. Vai-se lá saber porquê...

12.3.07

Sicilia, Ilhas Éolicas, Outubro 2006
Actualizando: apetecia-me azul céu. Azul mesmo azul. Por aqui o céu está azul, o sol brilha, não há uma nuvem no horizonte.
Mas não é tão azul. E apetece-me azul.

9.3.07

Apetecia-me

O mar, ver o horizonte ao longe. Longe que se confunde com futuro. Aqui tudo parece mais perto, mais presente. Vou até ao rio: o mar está demasiado longe. Deixar os pensamentos irem com a corrente, deixar tudo passar, deixar-me ir...

8.3.07

Olhar para trás

sem que isso resolva nada, correndo o risco de me afogar nos porquês sem resposta. Ou olhar para a frente, continuar a correr, sem saber o destino. Tal coelho da Alice no País das Maravilhas.

7.3.07

.... complicar a vida o trabalho e tudo o que apareça pela frente...
Usando frases feitas, lugares comuns. Fica sempre bem dizer isto. E tudo pode ser sempre mais complicado. Saber olhar?

comentário, em jeito de resposta

Invejas-me? Pelas paredes de pedra das casas de chaminés desalinhadas? Por saber onde me encontro, sendo que esse é um instante raro, para logo de seguida me perder, me deixar ir com as águas do rio contornando colinas demasiado timidas para serem montanhas? Lá mais à frente serão montanhas. Invejas-me? Dizem-me às vezes que vou para todo o lado, que não tenho medo. Sorrio de volta. Por não estar nunca em lado algum é fácil demais partir. Invejas-me? Sorrio de volta.

27.2.07

Onde me encontrar

Besançon, Fevereiro 2007

Nestes dias...

que já nem percebo se são diferentes ou iguais ao que sempre foram. O sentido que se perde, encontra para de novo se perder. Novas caras, espaço novo, novos problemas, anos que passam. Mas sempre eu. Talvez já nada seja novo, talvez tudo esteja ainda por descobrir.
Dias + dias e a busca incessante de encontrar as respostas inexistentes. Ou talvez não.

20.2.07

28.1.07

Arrumações compulsivas

No lab, em casa, no computador, em tudo o que vejo. Talvez a próxima seja eu, ou como habitualmente, talvez já não haja tempo, quando chegar a minha vez.

24.1.07

Mala aberta

no meio do escritório. Vazia, pequena. Lembrava-a grande e pesada.

16.1.07

Ando por aí,

perdida entre nuvens, dias de sol, dias cinzentos. Perdida por entre batalhas que não existem, simplesmente não são as minhas, mas nas quais me envolvo com tudo o que sou. Para evitar pensar. Pensei em acabar com este espaço, perdi-lhe o sentido. Anda por aí. Entrei em contagem decrescente, como sempre marcada por idas ao weather.yahoo.com, em que a default location varia com o destino seguinte. Á espera do dia em que, finalmente, no extended forecast (6-10 dias) a data de partida/chegada aparece, com informações que pouco interessam, mas marcam o tempo que passa. PS - A estrela do BBVA deixou de brilhar sem que me apercebesse, foi Natal, foram os reencontros. Estou em mudança para Besançon.