28.6.07

As flores e os pombos

Agora decidiram começar a comer os botões das margaridas.

Para poder encontrar-me a mim mesmo, tive primeiro de me perder. Tive de chegar ao pleno vazio de mim. Não foi um vazio imóvel, um compasso de espera na dança do ser: o meu vazio foi um rodopiar imparável de dinâmica negativa, de tal forma que desistir surgiu, por fim, como premente solução lógica para acabar de vez com o tormento daquele excesso giratório. Tinha dezanove anos. A minha vida, para todos os efeitos, mal começara. Mas antes mesmo de ter podido pisar-lhe o palco, parecia ter chegado já o momento de fechar o pano. A tragédia grega ensina que "o amor não deve atingir a própria medula da alma". Mas na vida de alguns de nós, de preferência uma única e irrepetível vez, a medula da alma é atingida pelo amor. Felizes os que sobrevivem.

Frederico Lourenço in A formosa pintura do mundo

Emaranhada

A vida enrola-se, os dias dão voltas e mais voltas, sempre iguais, sem nunca deixarem de ser diferentes. Enrolo-me neste novelo de fios sem fim, perco-me no meio das cartas que se dão, baralham e voltam a dar, que caem da mesa, voam com a brisa de vento, desfazem-se com a água da chuva para de novo voltarem às minhas mãos. As mesmas palavras, os mesmos fios que me atam, que me ajudam a regressar a casa. Palavras que que prendem, outras que amo, desejo, palavras que queimam ou libertam.
Perdi o fio à meada...

22.6.07

Quero ir ao Nepal

beber chá e olhar as montanhas.

19.6.07

Enquanto dormia

Ontem simplesmente continuei a trabalhar. Esta noite, antecipei as férias, passei pelas ruas de Kathmandu.

16.6.07

Lisboa


(...)

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade



Chuva, Mariza. Composição: Jorge Fernando
Palavras que dançam pelas ruas, num sábado de chuva. .

5.6.07

A Salsa e os pombos

A velhota de robe, do 4º andar do prédio a 45º da minha janela alimenta-os todas as manhãs e fins de tarde com pão que atira pela varanda. Os pombos, que vêm namorar para os vasos da minha varanda e nos seus momentos mais agitados lá atiram para fora do vaso tudo o que calha até o tornarem confortável. Depois a fase de enamoramento passa e tenho dias de sossego, de varanda limpa. Tirando as vezes em que lhes serve de casa de banho. Agora a nova moda é comerem-me a salsa. Um dia destes atacam-me a hortelã.

Saltos altos

E posso ir de saltos altos. Em Lisboa, colina a baixo, colina acima não há saltos nem pernas que aguentem. Apetece-se saltos altos, porque sim, deve ser do calor. Porque gosto, mudo o meu ponto de equilibrio e o mundo fica diferente. Não sou a mesma de sandálias e de botas de montanha.