22.4.05

Giacometti - Tinguely - Basel

Alguém me lembrou Alberto Giacometti e as imagens foram-se formando. Surgiu Tinguely e, claro, as fontes na Theaterplatz, o museu à beira rio. Basel. E uma imensidão de memórias e dias bem diferentes.
(num Agosto debaixo de chuva com uma amiga de sempre, em Theaterplatz, a "minha" escultura de Tinguely)
A distância entre o que ainda ontem se passou e vou esquecendo lentamente, instante a instante.

14.4.05

Calcorrei Lisboa em busca de uma janela com elevador e garagem, para passar a andar sempre a pé e subir sempre as escadas.

E perceber, mais uma vez, que apenas assim tudo sentido. E olhar as estrelas que se misturam com as luzes distantes da cidade a meus pés, sempre desperta no seu sono profundo.

10.4.05

domingo, domingo. sol, tempo, palavras: silêncio.

Maneira de bem sonhar

- Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer também amanhã. Nem mesmo é necessário que se faça qualquer coisa, amanhã ou hoje.
- Nunca penses no que vais fazer. Não o faças.
- Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela. Na verdade e no erro, no gozo e no mal estar, sê o teu próprio ser. Só poderás fazer isso sonhando, porque a tua vida real a tua vida humana é aquela que não é tua, mas dos outros. Assim, substituirás o sonho à vida e cuidarás apenas em que sonhes com a perfeição. Em todos os teus actos da vida real, desde o nascer até ao morrer, tu não ages: és agido.; tu não vives: és vivido apenas.
Torna-te, para os outros, uma esfinge absurda. Fecha-te, mas sem bater com a porta, na tua torre de marfim. E a tua torre de marfim és tu próprio.
E se alguém te disser que isto é falso e absurdo não o acredites. Mas não acredites também no que te digo, porque não se deve acreditar em nada.
- Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.
Bernardo Soares in Livro do Desassossego

7.4.05

É nobre ser tímido, ilustre não saber agir, grande não ter jeito para viver. Bernardo Soares in Livro do Desassossego

6.4.05

Silêncio

Procura-se
procuro-te, sem te querer encontrar onde sei que não estás, procuro-te
onde estás?
não te oiço...

4.4.05

Digo:

olha, é o mar e a ilha dos mitos originais. Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra a carne transcendente. E em ti principiam o mar e o mundo. Herberto Helder in Ou o poema contínuo

E se...

as grandes escolhas fossem mesmo entre a mesa da sala e as féria no Nepal/Tibete? (a vida seria bem mais simples... férias, claro. mas lá que a mesa dava jeito...)

1.4.05

Deito-me na banheira vazia, gelada. Abro a torneira, a água cai fria sobre o meu corpo despido, na banheira que se vai enchendo. Arrepio-me, tremo de frio. Lentamente a água vai aquecendo, confortando-me, ficando cada vez mais quente. O meu corpo ainda agora gelado começa a pedir-me que baixe a temperatura, mas deixo-me estar, o calor vai-se tornando insuportável. A água começa a cair mais fria, sinto-me melhor. Penso em pegar no livro pousado ao meu lado. Não, fico ali apenas dissolvendo-me na água que vai subindo, sonhando que gostaria de me transformar em água, talvez em rio, talvez em nada. Fico ali. Fecho a torneira de onde agora sai àgua como gosto: nem fria, nem demasiado quente. Carrego no botão. Começa o barulho. A banheira enche-se de bolhinhas. Penso novamente em pegar no livro para o não ler. E fico ali, sonhando dissolver-me em água. Mergulho a cabeça. Subitamente sinto-me mais leve. Decido que não me apetece ler o livro que levei comigo e pousei ao lado da banheira. Carrego novamente no botão, reparo no silêncio acolhedor que ficou entre nós: eu, a água e o livro que não li. Deixo a água sair lentamente descobrindo o meu corpo. Levanto-me, enrolo-me ma toalha. Decido que tudo está bem novamente, já não quero ser água. Visto-me e saio de casa. Para comprar um par de sapatos.