27.2.05

Terminei a colcha que nunca comecei. Que levei semanas a fio a tricotar, no sofá da sala, decorada com as luzes da cidade, com o ruído do rio a correr, tão distante, mesmo ali ao lado. “Tocas as flores murchas que alguém te ofereceu...” – dizem as palavras que alguém cantou, que dançam diante de mim. Pousei as agulhas. Arrumei as lãs nunca compradas na parte de cima do roupeiro. Com cuidado e o carinho que ainda te tenho dobrei essa colcha quase infinita. Arrumei-a no mesmo roupeiro, ao lado das lãs, envolta num velho lençol branco. Para não ganhar pó.

20.2.05

domingo de sol

vejo o dia através de vidros duplos... (e fechar as persianas não me parece boa ideia)

13.2.05

nuvem artifícial


lembrei-me: é esta a solução...

hoje: o desejo de sempre

10.2.05

se este mundo pudesse ser para sempre como foi num só dia...

ou se para sempre pudesse dormir, qual bela adormeciada. (estou com sono, cansada. é só isso)

8.2.05

Em vão o menino tentava Segurar uma gota de orvalho Entre o polegar e o indicador Imperfeito este mundo E contudo Recoberto de flores Issa Kobayashi in Primeira Neve

Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que a doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer. Mia Couto in Mar me quer

7.2.05

Ante o frio, faz com o coração o contário que fazes com o corpo: despe-o. Quanto mais nu, mais ele encontrá o único agasalho possível - um outro coração Mia Couto, Conselho do avô in Chuva Pasmada

2.2.05

lembrei-me de mim, hoje diante de ti. não eras rio, eras somente um espelho. e ali ficaste, comigo, toda a tarde em que não olhei o meu rosto