1.4.05

Deito-me na banheira vazia, gelada. Abro a torneira, a água cai fria sobre o meu corpo despido, na banheira que se vai enchendo. Arrepio-me, tremo de frio. Lentamente a água vai aquecendo, confortando-me, ficando cada vez mais quente. O meu corpo ainda agora gelado começa a pedir-me que baixe a temperatura, mas deixo-me estar, o calor vai-se tornando insuportável. A água começa a cair mais fria, sinto-me melhor. Penso em pegar no livro pousado ao meu lado. Não, fico ali apenas dissolvendo-me na água que vai subindo, sonhando que gostaria de me transformar em água, talvez em rio, talvez em nada. Fico ali. Fecho a torneira de onde agora sai àgua como gosto: nem fria, nem demasiado quente. Carrego no botão. Começa o barulho. A banheira enche-se de bolhinhas. Penso novamente em pegar no livro para o não ler. E fico ali, sonhando dissolver-me em água. Mergulho a cabeça. Subitamente sinto-me mais leve. Decido que não me apetece ler o livro que levei comigo e pousei ao lado da banheira. Carrego novamente no botão, reparo no silêncio acolhedor que ficou entre nós: eu, a água e o livro que não li. Deixo a água sair lentamente descobrindo o meu corpo. Levanto-me, enrolo-me ma toalha. Decido que tudo está bem novamente, já não quero ser água. Visto-me e saio de casa. Para comprar um par de sapatos.

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