letras
Saio todos os dias de casa depois do teu beijo. Olho a montra sempre igual dos chineses, desço a travessa de Santa Marta. O prédio em obras obriga-me a um desvio, passo por uma tasca e em frente sempre os mesmos 3 homens de barriga e bigode. Conversam. Calam-se quando passo e olham-me. Continuo e escolho a rua por onde desço até à rua de Santa Marta. O senhor da sapataria, com a sua pastinha de pele castanha, fecha a porta depois de mais um dia. Espreito as montras dos sapatos, os vestidos da Prada. Para dentro queixo-me: deviam mudar as montras mais vezes, para quebrar a minha monotonia. Avenida da liberdade abaixo. Na esquina todos os dias dois rapazes distribuem panfletos dos restaurantes Indian Star e do Hymalaia. Já me conhecem. Cumprimento o rapaz simpático do Hymalaia. Questiono-me sobre o que se passará com a velhota que custumava estar a pedir esmola debaixo das arcadas. Peço a senha, visto-me e vou para mais uma aula de ginástica com música sempre estridente, sempre igual. Esqueço-me de tudo, sou apenas um corpo. Banho, regresso a casa pelas mesmas ruas, agora já noite. Um beijo, o jantar, outro beijo e volto às letras. Tu dormes. Mais tarde eu vou dormir, acordar, voltar às letras e sair depois do teu beijo...
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